O Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental tem se mostrado como uma das barreiras mais efetivas contra o desmatamento na Amazônia brasileira e ele só existe pelo manejo milenar e luta dos povos indígenas e tradicionais que nele habitam. Há séculos esses povos produzem conhecimento e desenvolvem economias que cuidam das pessoas e da natureza ao mesmo tempo e, com isso, produzem diversidade, recursos naturais (como a água), saúde e bem-estar. Para além do resultado monetário, as economias dos povos indígenas e tradicionais podem transformar o futuro, ao colocar em primeiro lugar a vida. Por isso são economias da sociobiodiversidade.
São muitas as experiências na bacia do Xingu de organização de cadeias produtivas de produtos florestais não-madeireiros, que fornecem alimentos e insumos para os mais variados mercados. São desde produtos in natura para alimentação, como a castanha-do-Brasil, até produtos alimentícios acabados, como óleos de pequi e babaçu, e produtos para a indústria nacional e internacional, como a borracha e óleos para cosméticos.
Os produtos da sociobiodiversidade representam um importante aspecto da geração de renda, dos modos de vida da floresta e das culturas locais dos povos que habitam o Corredor do Xingu. Esses produtos advêm de atividades extrativistas que requerem estratégias de manejo contínuas e inovações tecnológicas que se adaptem ao ambiente florestal. Cada vez mais, as associações locais e seus parceiros fortalecem suas alianças, desenvolvendo estratégias comuns de produção e comercialização em seus territórios. Nos mercados, esses produtos encontram compradores que prezam por valores de sustentabilidade, autonomia das comunidades e justiça social.
“É da floresta que eu tiro os alimentos e o meu sustento. É a minha casa, é aqui o meu modo de vida. Ao trabalhar com os produtos da floresta a gente faz um serviço que é proteger o território. Se não tiver território, não tiver floresta, não vai ter produção.”
É preciso fortalecer a visão de que os modos de vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais são a base de sustentação das economias da sociobiodiversidade. O entendimento de que esses modos de vida são responsáveis pela reprodução dos ecossistemas traz uma perspectiva específica sobre a ideia de contribuições e serviços socioambientais reproduzidos e mantidos pelos povos indígenas e comunidades tradicionais do Corredor Xingu. As contribuições e serviços socioambientais, favorecem, de um lado, a manutenção, produção e recuperação de serviços ecossistêmicos, e de outro, atualizam e produzem a diversidade cultural dos povos do Xingu.
O desenvolvimento de uma economia da sociobiodiversidade requer a integração do conhecimento tradicional e do manejo da paisagem à inovação tecnológica, implementação de políticas públicas e desenvolvimento de mecanismos de repartição de benefícios às comunidades e populações que garantem a reprodução das contribuições e serviços socioambientais na bacia do rio Xingu.
As relações das populações indígenas e tradicionais do Corredor do Xingu com a natureza reforçam seus modos de vida e fortalecem a resiliência e a capacidade adaptativa desses povos para resistir não somente às oscilações de mercado e atividades predatórias, como também para lidar com as transformações climáticas em curso. A construção de novos paradigmas econômicos baseados no conhecimento indígena e local, na transformação da paisagem associada à conservação da biodiversidade e nas contribuições e serviços socioambientais constitui uma referência estratégica para a criação de mecanismos e ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.